Romeu Sassaki morre aos 84 anos, também conhecido como “pai da inclusão”

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Texto: Larissa Pontes / Imagem:  Everson Bressan/SMCS

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Em 1938, o mundo estava prestes a viver a segunda guerra mundial, no Brasil, Getúlio Vargas articula para golpe do estado novo por causa do “medo comunismo”. Mas nessa mesma época, nasceu Romeu Sassaki que depois de alguns anos se tornou o pai da inclusão. Sua história com a causa da pessoa com deficiência começa em 1960, quando estava na faculdade cursando Serviço Social pela Faculdade Paulista de Serviço Social, foi fazer um estágio  no Instituto de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que tinha sido instalado pela Organização das Nações Unidas com equipamentos importados.

Com o estágio no Instituto, ganhou uma bolsa de estudos pela ONU para estudar nos EUA e na Grã Bretanha entre 1966 e 1967. Quando retornou ao Brasil em 1967, começou a realizar diversas palestras, reuniões e cursos em entidades de reabilitação e empresas. Colocando em prática e divulgando os conhecimentos que foram de grande relevância para o movimento das pessoas com deficiência, como: de que forma eram feitas as colocações em empregos, quais recursos técnicos e tecnológicos haviam, quais eram os profissionais de equipe multidisciplinar, como esses profissionais eram formados e atualizados.

Romeu Sassaki entre 1969 e 1974 foi vice-diretor da Faculdade de Serviço Social da então Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Em 1975 administrou o Centro de Desenvolvimento de Recursos para Integração Social (CEDRIS), por meio do qual fez parte do Movimento das Pessoas com Deficiência (MDPD) através do convite a Heloísa Chagas, que nasceu em 1979. 

Em 1980, aconteceu o primeiro encontro do movimento das pessoas com deficiência com diversas entidades importantes em Brasília, no qual a escolha do local tem significado, naquela época Brasília era cidade nova e era o centro das decisões. Precisava começar as mudanças por lá para depois difundir para o resto do país.

Neste encontro foi discutido que antes do movimento de luta das pessoas com deficiência, existiam diversas entidades fundadas por pessoas com deficiência com o objetivo de ajudar na sobrevivência, arrecadando dinheiro, roupas, alimentos e trabalhos. Essas entidades eram só para um tipo de deficiência, como: só para cegos, só para surdos ou só quem tivesse deficiência física. 

Sabemos que existem diversos tipos de deficiência que são importantes e  que essas entidades se unam para que o movimento tenha força. Romeu Sassaki trouxe a ideia dos Estados Unidos, o movimento de coalizão que é a união de várias forças que antes trabalhavam sozinhas, a partir daí começaram a trabalhar em conjunto. Na reunião em Brasília criaram a coalizão Pró-Federação Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes. 

Tanto Romeu Sassaki tinha sido bolsista da ONU como Otto Marques que foi funcionário da ONU em Nova York  então recebiam muitas informações e publicações da Organizações Unidas, sempre levam todos os materiais para as reuniões. Eles tiveram informações de que 1981 seria o ano internacional das pessoas com deficiência. A partir de 1980, eles começaram a divulgar em São Paulo e depois para todo país. 

Neste mesmo ano, a Rede Globo entrou em contato com o movimento, porque queriam fazer umas vinhetas de 30 segundos para passar no intervalo do show de Roberto Carlos no final de ano, queriam indicações de pessoas com deficiência. Quando o movimento viu o projeto, não concordaram. Porque queriam filmar os defeitos físicos, as feridas nas pernas ou nos braços, queriam chocar a sociedade de forma a sensibilizar a sociedade. Mas os movimentos dos PCD, não concordavam com esse tipo de abordagem, não acreditavam nessa forma de sensibilizar, porque só iria reforçar a imagem de “coitadinho”. Eles queriam que os PCD fossem vistos dessa forma, querem conscientizar e informar o público a partir das suas reivindicações, para que a sociedade mude. 

A Rede Globo não aceitou as críticas e as modificações e filmaram do mesmo jeito. Estamos em 2021, o movimento das pessoas com deficiência conquistaram muitas coisas, mas infelizmente a sociedade tem muita  visão capacitista dos PCD. Romeu Sassaki mostra a partir da sua história que a informação e conhecimento podem fazer transformações na sociedade. 

Em 1981, o Ano internacional da pessoa com deficiência, o MDPD conseguiu que o secretário municipal de cultura Mário Chamie, autorizasse a construção de uma rampa provisória, feita de madeira, na entrada do Teatro Municipal de São Paulo. Mesmo sendo provisória, aquela rampa representou uma grande conquista, porque era a única maneira de pessoas com deficiência poderem assistir junto com todo mundo a uma apresentação do maestro Isaac Karabtchevsky.

Em São Paulo, na Praça Roosevelt, o movimento fez uma feira de demonstrações de barreiras e acessibilidades. Construíram caminhos com degraus e desníveis, forneceram várias cadeiras de rodas para as pessoas experimentarem as dificuldades. Também mostravam a altura orelhão, de pias, do espelho o errado e qual seria o certo.   

Também pressionaram o presidente da república João Baptista Figueiredo, que acabou criando a Comissão Nacional do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, mas não havia nenhuma pessoa com deficiência naquela comissão.O Núcleo de Integração de Deficientes (NID) foi uma das entidades de pessoas com deficiência a exigir a inclusão de uma pessoa com deficiência na Comissão do Ano Internacional.

Em 1987, Romeu Sassaki e os integrantes dos movimentos estavam trabalhando no âmbito nacional e tiveram uma grande participação na Constituinte de 1988, que foi marcada como primeira Constituição Federal a tratar de garantias e direitos para as pessoas com deficiência. Em 1986, o anteprojeto da constituição já estava todo escrito pela Câmara Federal e não tinham consultado o movimento das pessoas com deficiência, mostrando uma visão bem antiga e paternalista. O MDPD construiu uma comissão, fizeram diversas reuniões para fechar as propostas feitas pelo movimento para constituição. 

Romeu Sassaki era o secretário e ficava responsável pelas as atas, Cândido Pinto de Melo foi o coordenador em São Paulo, Carlos Burle Cardoso, em Porto Alegre, e Messias Tavares de Souza foi o porta-voz do movimento no Congresso Nacional, em Brasília. Conseguiram modificar várias coisas no anteprojeto de constituição, que foi aprovado em 1988. 

As conquistas dos PCD foram: 

– Artigo primeiro diz que a dignidade humana é o fundamento do nosso estado, ao dizer isso o artigo engloba todos, inclusive às pessoas com deficiência que também tem direito a uma vida digna.

– Artigo terceiro proíbe qualquer tipo de discriminação independente de qualquer característica da pessoa.

– Criação do benefício de prestação continuada (BPC). Ele garante um salário mínimo para a pessoa com deficiência que não consegue se sustentar.

Em alguns relatos de Romeu Sassaki em entrevista era que o movimento das pessoas com deficiência, como eram várias entidades juntas se discutiam muito sobre desmistificações sobre visão antiga, caritativa, assistencialista, que as próprias associações também tinham. 

O movimento atuava muito em São Paulo, no dia 20 de maio de 1989 aconteceu o 1º Fórum de Pessoas com Deficiência, Romeu Sassaki relatou esses fórum foram debatidos diversos assuntos e que tudo era documentado para eles pudessem perceber e vê o quanto eles já tinham avançado nas conquistas, então foi importante para batalharem por ônibus adaptados ou acessíveis, reivindicações, eliminação de barreiras atitudinais, o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência (21 de setembro). Uma das coisas importante foi que jornalistas e mídia estavam assustados, ficaram sempre em cima do movimento, isso fez nós aprender muito e eles também. 

Romeu Sassaki, podemos perceber que teve um papel fundamental em cada conquista do movimento da pessoa com deficiência, foi uma das primeiras pessoas a discutir sobre inclusão nas escolas e no mercado de trabalho em 1980. Já são 50 anos de luta pelo movimento na visão de Sassaki, “Houve avanços com vários ritmos de velocidade, uns mais lentos, outros mais rápidos. Mas, desde o passado até hoje, estamos sem atingir a maioria das pessoas com deficiência. Milhões de pessoas com deficiência ainda estão vivendo como “na era da caverna”, ainda estão com problemas básicos de falta de atendimento de saúde, de remédio, de cirurgia, de reabilitação, de uma muleta, de um par de óculos. Há milhões de pessoas que nem isso têm. O que aconteceu é que, ao longo do tempo, houve estagnação, paramos de brigar.”

Uma história que serve de grande inspiração para diversas pessoas que lutam pelo movimento, que tem muitas coisas a serem conquistadas e que é possível transformar a sociedade a partir do conhecimento. 

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